As Crónicas do Autocarro: Bus Trips are Magic

21:32:00

Imagem por Gosia Herba

 Vamos às confissões: eu ainda não tenho carta de condução.

É daquelas situações que por um lado uma pessoa até tem vergonha de admitir, mas por outro sabe que se os examinadores não tivessem uma quota diária de chumbos por dia para manterem o emprego, se calhar o homem até não tinha gritado comigo por ter arranhado uma mudança e, à conta disso, não tinha passado num Stop sem parar. 

O quê? Vão-me dizer que essa quota não existe? Querem dizer que os excelentíssimos examinadores mantêm aquela excelentíssima expressão de ânus com gonorreia por opção, e não por especificação do emprego? Vá lá.

E assim sendo, isto implica que dependo dos transportes públicos para me deslocar. O que, vamos parar de ser cínicos por um momento, até nem à mau de todo. Posso ir a ouvir música e a acabar trabalhos de cuja existência só tive conhecimento porque recebi uma notificação no chat do Facebook com os três segundos de internet lenta que apanhei na FON ZON do terminal. A mim, como bola de nervos e ânsia interna que sou, tira-me um peso de responsabilidade saber que posso chegar ao meu destino sem a preocupação de atropelar pombos ou ter acidentes em rotundas.

Detesto rotundas, essas invenções do satâ.

No entanto, existem dias. Dias em que a lua está cheia e o vento vem do sudoeste, em que saem os alucinados todos à rua e, consequentemente, aos transportes públicos. E eu deparo-me com as melhores e as piores das situações.

E pelo menos uma delas tenho de despejar aqui.

Bus trips are magic

Estava eu a voltar da escola, com o olhar de peixe morto e a postura de um reumático de 70 anos que me caracteriza às sete da tarde de um dia de aulas, quando o autocarro para para recolher mais gente na paragem depois da minha. Entram umas quantas pessoas, entre elas um rapaz mais ou menos da minha idade com um telemóvel na mão. Perfeito, lembro-me de pensar na altura, mais um swagão com música de discoteca brega aos altos berros. No entanto, assim que afundei a cabeça na tablet para pôr a música mais frita que tinha, no volume mais alto, começo a ouvir a música do tal rapaz. E não era nada do que eu esperava.


Não era exatamente esta, mas uma versão umas setenta vezes mais glitchada e com pelo menos três vezes mais autotune. Viro a cabeça lentamente, a tempo de ver o semblante calmo do rapaz enquanto a sua escolha musical arranhava as fracas colunas do telemóvel que levava apertado no punho. Eu e mais uns dois ou três desconhecidos entreolhámo-nos, todos em busca de uma qualquer alma que nos pudesse explicar a situação - não encontrámos tal pessoa. E assim fui, a ouvir um mashup muito bizarro dos Imagine Dragons que continuavam a tocar nos meus auscultadores e da música do rapaz em repeat, até ele sair na sua paragem.

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