REVIEW // Deuses de Dois Mundos - O Livro do Silêncio

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Deuses de Dois Mundos - O Livro do Silêncio  // PJ Pereira // 2014 // Individual // 264 p.

Sinopse
O Livro do Silêncio é o primeiro livro da trilogia Deuses de Dois Mundos, “… O segredo da história é entrelaçar dois mundos: São Paulo, onde vive um jornalista audacioso, doido para ascender nas redacções e conquistar uma posição de destaque, investigando um grande escândalo empresarial e se envolvendo com colegas e chefes; e Orum, onde vivem os orixás, o mundo da rica mitologia africana, onde Orunmilá, o maior adivinho de todos tem os seus poderes silenciados e tenta entender como recuperar sua capacidade de antever o futuro. Numa jornada que aos poucos vai revelando como é possível que os dois mundos tão distantes no tempo e no espaço se comuniquem, o leitor vai descobrindo os sentimentos mais fortes capazes de guiar pessoas e deuses. Irá Orunmilá com a ajuda de Exu, Ogum, Oxóssi, Oxum reencontrar seus poderes? Irá Newton Fernandes compreender a origem das estranhas coisas que passaram a lhe acontecer? Mergulhe você também neste livro do silêncio!”

Opinião
Nunca é muito bom sinal quando eu demoro muito tempo a ler um livro. Pior ainda, quando não me dá sequer vontade de o reler antes de me debruçar num texto opinativo sobre ele.

Um livro que tem como pano de fundo uma cultura africana (iorubá), escrita por um autor brasileiro. Um pau de dois bicos, apenas atenuado pela asserção do autor de que conduziu uma pesquisa extensiva para o escrever.  É daquelas situações em que se peca por fazer e por não fazer: debruça-se numa cultura que não é a sua, pode ser acusado de andar a tentar apropriar-se da cultura dos outros e a escrever sobre o que não sabe;  escreve apenas sobre a sua própria cultura, acusam-no de ignorar a existência de outras senão a sua. Não pertenço à cultura africana, não vou opinar yay or nay nesta parte: deixo isso para os da cultura em questão decidirem.

Notam-se tons de Houellebecq na escrita e na estruturação do enredo desta obra:  um protagonista branco-cis-hétero arrogante, superconfiante na sua carreira e orgulhoso de todas as coisas imorais que fez que, apesar de tudo, é escolhido para Algo Superior™. Acordem-me quando esta premissa não for um cliché sobreusado daqueles do fundo da caixa.

As personagens são arquétipos descritíveis num par de adjetivos, as personagens femininas então são só combustível de catfighting e ferramentas de desenlaçe do enredo, a história é uma amálgama aborrecida de clichés e tropes mal utilizados. Não há construção do mundo, exposição, nada: o que privou os leitores de um mundo fantástico no qual poderiam ter mergulhado muito mais profundamente.

E assim ficámos: um enredo pobre, um pacing desajustado, um mundo pouco explorado, e personagens mais-do-mesmo com a personalidade de uma folha de papel molhada.

O facto de ser uma trilogia pode até elevar as esperanças para um melhoramento - mas o livro não cria grande vontade de se seguir a história.

Pontos fortes? Bom, há uma personagem não-binária. Que é mencionada assim em metade de um capítulo, e não volta a aparecer, portanto tirem daqui o que quiserem.

★★☆☆☆

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