Multipotencialistas: mil interesses, mil inovações

18:09:00


Há uns dias aprendi sobre o conceito de Multipotencialistas através de uma TedTalk de Emilie Wapnick, que é aparentemente uma das pioneiras deste termo e responsável pela criação da comunidade multipotencialistas. E em que consiste? Em algo muito simples, mas que desafia barreiras.

Multipotencialistas, também chamados de Generalistas, Multipassionate ou Pessoas da Renascença (mais à frente já explico esta), são basicamente o oposto dos especialistas. São pessoas que, em vez de terem um "one true calling" uma área do conhecimento de que gostam mesmo e que se dedicam a aprofundar só e apenas, têm várias áreas de interesse que podem ou não estar em constante mudança, e nas quais se querem focar sem terem de escolher uma.

E isto, parecendo que não, vai contra muito daquilo que nos é doutrinado desde crianças: é desde cedo que nos perguntam o que queremos ser quando formos grandes, e riem se porventura respondemos "bailarino e médico" ou "pintor, escritor e canalizador". É pouco quem não responda a uma afirmação dessas com um condescendente "tens de escolher só uma". E é aí que reside o problema.




Ainda que seja anacrónico dizer que antigamente já existiam multipotencialistas, este tipo de pessoas que divide o seu tempo e interesses por diferentes áreas recua até ao Renascimento (lá está). Não vamos mais longe: o mano Leonardo da Vinci era  matemático, engenheiro, anatomista, botânico, cientista, inventor, pintor, escultor, arquiteto, poeta e músico. Michelangelo era  pintor, escultor, poeta e arquiteto. Albrecht Dürer era gravador, pintor, ilustrador e matemático. Muitos artistas do Renascimento eram particularmente conhecidos por andarem a estudar uma mão-cheia de coisas ao mesmo tempo sem nunca escolherem uma e abandonarem as outras.

Podemos até atribuir isto a um panorama sociocultural diferente, que lhes permitia (a até aplaudia) terem vinte ocupações e a nós, tristes escravos do 24/7 e da rapidez da vida moderna, nos condena a escolhermos uma. Mas sinceramente, não me interessa muito arranjar desculpas para o porquê de não se conseguir - e sim arranjar soluções para se conseguir.


Emilie Wapnick tem demonstrado que os multipotencialistas conseguem ser responsáveis pela inovação, ao pegarem num conhecimento de determinada área e a aplicarem a outra de forma a resolver um problema ou criar algo inteiramente diferente. Também têm a capacidade, nas suas palavras, de ser uma ponte entre especialistas de vários campos, visto estarem familiarizados com todos eles.

"Um fundo de exploração multidisciplinar significa que os multipotencialistas são capazes de "falar a língua" de pessoas em diferentes campos. A capacidade de alternar entre os modos de pensamento permite-nos traduzir entre os grupos, ajudá-los a entender-se uns aos outros, e trabalhar com grandes equipas."

- Emilie Wapnick

E não encontramos multipotencialistas só no passado: Steve Jobs foi, citando o mais recente filme biográfico de 2015, "o maestro da orquestra": alguém que juntou os múltiplos conhecimentos das diversas áreas de criação de aparelhos eletrónicos, aplicou-lhes uma boa dose de entendimento sociológico e criou um produto que se tornou um landmark geracional. Maya Angelou, apesar de ser mais conhecida pelo ser trabalho literário, foi uma pessoa que se interessou ao longo da sua vida pelo teatro, dança, canto, ativismo pelos direitos civis, e foi ainda a primeira argumentista negra em Hollywood e desenvolveu trabalho em África como jornalista e professora.


O estilo de vida multipotencialista tem ganho tração nos últimos tempos, com a criação da comunidade Puttylike, que serve de conexão entre multipotencialistas e como plataforma para Emilie dar dicas de como arranjar tempo/motivação para trabalhar nos variados interesses, fazer dinheiro enquanto multipotencialista, e lidar com aquele tipo de pessoas que diz que não somos multipotencialistas coisa nenhuma, somos é indecisos.

All in all, a comunidade multipotencialista tem-se afirmado como um lugar de crescimento, inovação e criatividade. Esperemos, ainda, que a sua visibilidade venha a tornar o facto de se ter mais do que um interesse específico, mais do que uma área do conhecimento em que nos queremos focar, um lugar-comum - porque o mundo anda a precisar de menos especialistas à força, e de mais gente que realmente faz o que gosta.

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